NATURISMO NO BRASIL

Até o ano de 1500, o Brasil era habitado por naturistas. Tanto no aspecto do meio de vida ecologicamente correto, quanto na sua atitude natural perante a nudez. O naturismo aconteceu antes mesmo do descobrimento, pois o País já era habitado por índios que andavam nus e não se envergonhavam dos seus corpos, pois estes eram irrelevantes quando se olhava para o interior das pessoas, respeitavam a natureza e usufruíam da qualidade de vida que esta lhes proporcionava.

Os colonizadores portugueses e a igreja não respeitaram o modo de vida, a cultura e o idioma desses povos indígenas. Os vestiram e catequizaram, acabando por descaracterizar e influenciar a herança cultural dos brasileiros. Até 1945 o governo brasileiro promovia esta “civilização” dos indígenas. Poucas tribos conseguiram conservar sua cultura ou parte dela.

Quando se fala do início do naturismo no Brasil, destaca-se como percursora do idealismo naturista a bailarina capixaba Dora Vivacqua, mais conhecida por seu nome artístico Luz Del Fuego, que era uma mulher à frente de seu tempo, que não se ajustava a nenhum padrão e não permitia que ninguém interferisse na sua vida.

Lutava para ser autêntica, amava os animais, a natureza e andar nua, dizendo viver despida de preconceitos e ilusões e à luz da verdade. Mesmo incompreendida, não deixou de lutar por seus ideais. Assim, liderou o movimento naturista no Brasil.

Com o final da Segunda Guerra Mundial, surgiram vários partidos políticos, entre eles o “Partido Naturista Brasileiro”, criado em 1949, por Luz Del Fuego. O principal intuito do partido era fomentar seus ideais nudistas. Nesta mesma época ela também criou um clube naturista que chamou de Ilha do Sol, no estado do Rio de Janeiro, e chegou a ter aproximadamente duzentos sócios de várias partes do mundo. Na ilha, a nudez era obrigatória, sendo realizadas atividades saudáveis como caminhadas, natação e banhos de sol, o local chegou a ser visitado por celebridades nacionais e internacionais.

Em 1954, Luz Del Fuego criou também no Rio de Janeiro o “Clube Naturista Brasileiro”, que tinha por finalidade estimular a prática do naturismo sob rígidos princípios morais e de higiene. A FNI reconheceu oficialmente o grupo naturista brasileiro em 1965, quando publicou no seu guia anual uma nota sobre a “Fraternidade Naturista Internacional do Brasil – FNIB”, o primeiro nome da Federação Brasileira de Naturismo.

Quando os militares assumiram o poder do país, em 1964, foi criado um governo de extrema direita, com total proibição de direitos públicos. Todos os partidos políticos foram considerados ilegais e as reuniões públicas eram controladas pelo exército. O Clube Naturista Brasileiro continuou a existir, mas a repressão afugentou seus freqüentadores. Com o passar dos anos, o grupo que freqüentava a Ilha do Sol foi se dispersando e poucos visitantes apareciam. A idade foi avançando e Luz passou por diversas dificuldades, e em 1967, morreu assassinada juntamente com o caseiro Edgar.

Com a morte de Luz Del Fuego e a dura repressão da ditadura militar, o movimento naturista foi perdendo a sua força. Alguns poucos praticavam o nudismo em suas casas e propriedades particulares e outros se reuniam às escondidas durante os anos 70 em praias como Abricó e Olho de Boi, no Rio de Janeiro, e Ubatuba, em São Paulo. No início dos anos 80 surgem os primeiros indícios da prática na Praia do Pinho, em Santa Catarina.

Nesta época a filosofia recebeu grande destaque da mídia e tornou-se conhecida por milhares de brasileiros. Hoje, fortemente difundido, o naturismo possui mais de 30 entidades afiliadas a FBrN – Federação Brasileira de Naturismo e já é caracterizado como um movimento maduro e com grande potencial de crescimento.

Fonte:
PEREIRA, Paulo. Corpos nus: o testemunho naturista.
2.ed. Rio de Janeiro: Leymare 2000.

ROSSI, Celso. Naturismo: a redescoberta do homem.
2.ed. Porto Alegre: Magister, 2007.